O Aperto de Mão que Não Tem Nome



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Da Redação

Na Maçonaria, independentemente do tempo de caminhada de cada irmão, todos estamos familiarizados com os apertos de mão. A cada passo progressivo em nossa entrada na Ordem, aprendemos um novo aperto, que funciona como um meio físico e simbólico de reconhecer se um homem é, de fato, quem afirma ser dentro da Fraternidade. Mais do que simples sinais de reconhecimento, os apertos carregam significado, história e propósito.

Cada aperto possui uma narrativa própria que lhe confere sentido. Essas histórias formam o legado do aperto. Para alguns irmãos, esse legado é constantemente lembrado sempre que utilizam ou observam determinado aperto. Para outros, tais narrativas permanecem adormecidas na memória, ressurgindo apenas quando presenciam a recepção de um candidato em um grau. Ainda assim, mesmo quando não conscientemente recordadas, essas histórias continuam vivas na essência do gesto.

É interessante observar que a palavra aperto pode ser compreendida tanto como substantivo quanto como verbo. Como substantivo, refere-se à forma como seguramos algo, à firmeza, ao domínio ou à compreensão. Fala-se de ter “bom aperto ” em uma raquete ou de alguém que “tem algo sob seu controle”. Também pode simbolizar autoridade, comando, poder ou domínio. Como verbo, expressa ação: segurar, agarrar, envolver. Uma história pode “agarrar” o leitor, envolvê-lo e fasciná-lo. Esses significados se aplicam com naturalidade à experiência maçônica, pois os apertos que aprendemos são, ao mesmo tempo, nomeados e executados, carregando ação e simbolismo.

Na Maçonaria, os apertos de mão não são apenas sinais; são gestos que alcançam o outro. Por meio deles, estendemos a mão ao irmão para acolhê-lo, reconhecê-lo e aceitá-lo como parte da grande família maçônica. Cada aperto ensinado tem uma herança, uma razão de existir e um valor simbólico que reforça nossos laços de fraternidade.

Entretanto, existe um aperto de mão que não possui nome, ritual ou história registrada — e, ainda assim, carrega um legado profundo e inesquecível. Trata-se de um gesto nascido não da ritualística formal, mas do coração humano. Um aperto silencioso, surgido em um momento de extrema fragilidade, dor e amor fraterno.

Em um desses momentos da vida, um irmão muito querido enfrentava sua última jornada terrena, após uma dura batalha contra o câncer. Amigos, irmãos da Loja, do Distrito e do Vale, além de familiares e líderes religiosos, reuniram-se para um breve momento de oração e apoio. Não houve formalidades, apenas a urgência do afeto. Sob chuva, vento e frio, mais de oitenta pessoas se uniram em torno daquele irmão, demonstrando que a verdadeira fraternidade se manifesta nos instantes mais difíceis.

Após a oração, já dentro da casa, aproximar-se daquele irmão exigia mais do que palavras. Ao tomar sua mão, fraca, mas ainda presente, surgiu espontaneamente um aperto diferente: palmas unidas, polegares entrelaçados, dedos envolvendo as mãos e, por fim, uma segunda mão apoiando suavemente o gesto. Um aperto sem nome, sem ensinamento ritualístico, mas pleno de significado.

Nesse aperto sem nome, houve poder. Não o poder da força física, mas o poder do amor, da amizade e da presença divina. Ali se comunicaram, em silêncio, sentimentos que as palavras já não conseguiam expressar. Falou-se de vida e morte, de amizade verdadeira e de amor fraternal. Falou-se, sobretudo, da confiança em Deus e da certeza de que, independentemente da situação, somos sustentados por Sua vontade e por Seu cuidado.

Como os apertos maçônicos, esse aperto também precisou ser desfeito quando chegou o momento da despedida. Contudo, assim como acontece entre irmãos que se separam após um encontro ritualístico, o vínculo permaneceu intacto. O aperto de mão que não tem nome transformou-se em um fio essencial no tecido da vida, carregando consigo uma história, um legado e uma lição profunda.

Esse gesto nasce no coração dos amigos. É o toque que comunica, por palavras ou silêncios, aquilo que sentimos por quem amamos — seja ao apertar mãos, envolver os ombros ou oferecer um abraço. Todos nós, inevitavelmente, deixaremos este plano um dia. Que saibamos usar o tempo que nos resta para oferecer esse aperto sem nome àqueles que nos são caros, expressando amor, afeto e fraternidade enquanto ainda há tempo.

 

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