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Da Redação
Entre os símbolos mais antigos e significativos
da Maçonaria, a pedra — ocupa um lugar central, pois conecta diretamente a
Maçonaria operativa à especulativa, unindo o trabalho manual ao aperfeiçoamento
moral e intelectual do homem.
Na Maçonaria operativa, a chamada pedra
perfeita, não era, como muitas vezes se imagina hoje, uma grande peça destinada
à construção. Ao contrário, tudo indica que se tratava de uma peça de aprendiz;
uma pedra de pequenas dimensões, cuidadosamente talhada, polida e acabada,
geralmente na forma de um cubo perfeito. Seu tamanho reduzido permitia que
fosse facilmente transportada, pois ela servia como prova concreta da
habilidade do aprendiz ao término de seu período de formação.
Já a pedra aparelhada ou perpendicular, em
termos operativos, era um grande bloco retangular, com extremidades lisas,
utilizado para ligar as paredes internas e externas de uma edificação,
desempenhando função semelhante à de um tirante estrutural nas construções
modernas.
Quando o aprendiz concluía seu aprendizado e
solicitava admissão como Companheiro do Ofício, era comum que apresentasse sua
pedra perfeita como prova de sua capacidade profissional. Além disso, ele
gravava nela o seu sinal ou marca pessoal, um elemento essencial de
identificação. Há evidências de que, na Maçonaria escocesa primitiva, a
concessão da marca fazia parte do grau de Companheiro, enquanto na Maçonaria
inglesa esse costume acabou se desenvolvendo como um grau separado — infelizmente
não reconhecido pela Grande Loja Unida da Inglaterra.
Em situações práticas, quando um maçom buscava
trabalho em um novo canteiro de obras e não havia ali ninguém que pudesse
atestar sua condição, ele apresentava sua pedra marcada e comunicava o sinal, o
toque e a palavra, comprovando assim que era realmente um Companheiro do
Ofício.
Com o surgimento da Maçonaria especulativa,
especialmente com a criação do grau de Aprendiz Iniciado, surge também a pedra
bruta, carregada de alegoria e simbolismo. Ela passa a representar o homem em
seu estado inicial: imperfeito, sem polimento, carente de educação e
disciplina. Em contraste, a pedra lisa ou perfeita simboliza o Companheiro:
aquele que, por meio do trabalho, do estudo e da moralidade, lapidou a si
mesmo, alcançando maior equilíbrio, conhecimento e retidão de caráter.
Há ainda registros históricos que reforçam essa
interpretação simbólica. No antigo documento conhecido como Manuscrito de
Melrose nº 2, de 1674, encontra-se uma regra que exige que os aprendizes
apresentem “ensaios” para provar sua habilidade antes de serem feitos maçons.
Naquele contexto, o termo essay não significava um texto escrito, mas algo
próximo ao que hoje chamamos de assay: testar, provar, colocar à prova a
qualidade, a excelência e a aptidão. Em uma época em que muitos mestres e
oficiais não sabiam ler ou escrever, a avaliação se dava essencialmente pelo trabalho
executado, não por palavras.
Algumas tradições sugerem, inclusive, que o
candidato era colocado no canto sudeste da Loja com uma pedra bruta e, diante
dos irmãos, deveria transformá-la em uma pedra perfeita, demonstrando que a
obra era de fato fruto de seu próprio esforço e não de outro. A peça resultante
era então examinada quanto à esquadria, proporção e acabamento, garantindo sua
qualidade.
Assim, a pedra — bruta ou perfeita — transcende
sua origem operativa e se consolida como um dos mais profundos símbolos
maçônicos. Ela nos recorda que cada homem ingressa na Ordem como matéria ainda
por lapidar e que, por meio do trabalho constante, da disciplina moral e do
aprimoramento intelectual, pode transformar-se em uma obra digna de integrar o
grande edifício da humanidade.

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