Boaz ou Booz? Jaquim ou Jakin? Uma Revisão Sobre a Etimologia dos Nomes Das Colunas B e J (Parte I)

 


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Ir.: José Ronaldo Viega Alves
Oriente de Santana do Livramento – RS

“Ele levantou as colunas na frente do pórtico do templo. Deu o nome de Jaquim à coluna do sul e de Boaz à coluna ao norte. Os capitéis no alto tinham a forma de lírios. E assim completou-se o trabalho das colunas.”
(1 Reis 7:21–22 – Bíblia de Estudo Arqueológica NVI)

“Pôs estas duas colunas no pórtico do templo. Tendo levantado a coluna direita, deu-lhe o nome de Jaquim; levantou do mesmo modo a segunda coluna e deu-lhe o nome de Booz.”

(1 Reis 7:21–22 – Bíblia Sagrada)

INTRODUÇÃO

Este artigo foi escrito e publicado pela primeira vez há cerca de dez anos. O título recebe agora o acréscimo da palavra “Revisão”, pois, ao relê-lo e analisá-lo cuidadosamente, tornou-se necessário corrigir imprecisões, aprimorar conceitos e acrescentar novas informações.

Boaz e Jaquim são os nomes das duas colunas de bronze que Salomão ordenou fossem fundidas e colocadas à entrada do Templo de Jerusalém. Contudo, é comum encontrarmos variações como Boaz/Booz e Jaquim/Jachin/Jakin, o que suscita questionamentos: tratam-se apenas de grafias diferentes ou haveria também diferenças de significado?

O tema das colunas B e J é recorrente em estudos maçônicos e desperta constante interesse, seja por sua simbologia, por suas dimensões, por sua localização no Templo ou por seus ornamentos. O objetivo deste trabalho, entretanto, é investigar a origem etimológica dos nomes atribuídos às colunas, analisando grafias e significados à luz de estudos da língua hebraica.

AS TRADUÇÕES

As passagens bíblicas apresentadas demonstram que as grafias dos nomes variam conforme a tradução utilizada. Na Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, por exemplo, as notas de rodapé indicam:

Jaquim: provavelmente significa “ele firma”;

Boaz: provavelmente significa “nele há força”.

COMENTÁRIOS

O uso do termo “provavelmente” revela prudência, pois o tema ainda é objeto de debates acadêmicos. O hebraico bíblico possui particularidades, como a utilização dos sinais massoréticos, que influenciaram a pronúncia e a leitura das palavras ao longo do tempo.

Conforme esclarece o Ir.: Rui Samarcos Lora, os textos atuais do Antigo Testamento baseiam-se nos textos massoréticos, e a ausência ou má utilização desses sinais pode gerar interpretações divergentes, sobretudo no uso das vogais.

“Uma das hipóteses que justifica o mau uso das palavras ou pronúncias equivocadas pode estar associada à falta da utilização dos sinais massoréticos.”
(Lora, 2014, p. 41)

BOAZ OU BOOZ?

No livro Quem é Quem na Bíblia, Boaz é apresentado como o marido de Rute, sendo-lhe atribuídos significados como rapidez e nele há força. Já na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, de R. N. Champlin, Boaz é descrito tanto como personagem bíblico quanto como elemento arquitetônico do Templo de Salomão, recebendo ainda acepções como felicidade e rapidez.

Champlin destaca também o caráter moral de Boaz e sua importância genealógica, sendo ancestral direto do rei Davi e integrante da genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5).

No hebraico, a palavra Boaz é composta pelas letras Beth (B), Ain (muda) e Zain (Z). A variação entre Boaz e Booz não se origina do hebraico, mas de diferentes transliterações para outros idiomas.

Alguns rituais maçônicos utilizam a grafia Booz, o que levou a debates. Contudo, especialistas afirmam que BOAZ é a forma mais fiel ao idioma hebraico original, enquanto BOOZ deriva das traduções grega e latina, especialmente da Vulgata de São Jerônimo, mantida pela tradição da Igreja Católica.

A Loja de Pesquisas Quatuor Coronati, referência mundial em estudos maçônicos, sempre adotou a grafia BOAZ em suas publicações desde 1886.

Dessa forma, pode-se concluir que BOAZ é a grafia mais adequada do ponto de vista etimológico, sendo BOOZ uma forma derivada de traduções posteriores.

CONCLUSÃO PARCIAL

Até este ponto, observa-se que a palavra BOAZ aparece na Bíblia tanto como nome próprio quanto como designação de uma das colunas do Templo de Salomão, mantendo significados associados à força e à prontidão. As variações gráficas decorrem de tradições linguísticas e históricas, não de diferenças semânticas no hebraico original.

CONTINUA…

NOTAS

(1) Sinais massoréticos – Desenvolvidos por estudiosos judeus a partir do século V, consistem em sinais vocálicos e anotações que preservam a pronúncia correta do hebraico bíblico.

(2) Vulgata de São Jerônimo – Tradução da Bíblia para o latim realizada no século IV, baseada nos textos hebraico e grego, que exerceu profunda influência na tradição cristã ocidental.

 

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