A utopia maçônica e a jornada do iniciado


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Por Robson de Barros Granado

A Maçonaria tem uma utopia, uma certeza, um conceito fundamental sobre o mundo e uma meta para seus adeptos. Sua compreensão de mundo e da tarefa que seus membros precisam desempenhar neste mundo é revelada por meio de símbolos e de falas ritualísticas. Nada é dito ou apresentado como verdade inquestionável, o que seus iniciados conseguem entender decorre de seu próprio estudo e meditação.

Em toda sessão ritualística, os irmãos escutam o Chanceler afirmar que a Maçonaria é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade. Uma humanidade feliz é um desejo utópico e, como tal, mais uma motivação ambiciosa do que uma meta factível. Para os céticos, dominados por senso de praticidade, perseguir uma utopia é tolice. O que se deve fazer é buscar seu próprio interesse posto que a vida é breve e não se deve desperdiçá-la com fantasias. Mas a visão da Maçonaria não é a da mentalidade prática, a da mente que nega o sonho. A instituição maçônica, uma ordem iniciática, tem como meta o sonho impossível da construção de uma humanidade feliz, obra coletiva que une os sonhadores por um mundo perfeito. Por isso, toda vez que os iniciados se reúnem, a utopia de tornar feliz a humanidade é anunciada. Os iniciados devem trabalhar por um mundo de paz onde a humanidade viva feliz.

A certeza compartilhada por todos os iniciados é a de que a existência de um criador incriado, origem de todas as coisas, é real, é verdadeira. Na Maçonaria não são aceitos para iniciação aqueles que não acreditam nesta verdade. A Ordem não define este criador de todas as coisas, deixa que cada um o entenda como quiser. Para facilitar a referência, a Maçonaria, que teve seu início entre os construtores de templos cristãos na Idade Média, chama a Deus de o Grande Arquiteto do Universo.

O conceito de mundo apresentado aos iniciados da Maçonaria é dual, existe o mundo visível e material e também o mundo invisível e espiritual. Na entrada do templo há duas colunas sobre as quais repousam duas esferas, uma representando o mundo da terra e outra representando o mundo do céu. No interior do templo há uma escada invisível que liga o céu à terra, inspirada na "escada de Jacó" descrita no sonho daquele personagem do Antigo Testamento que foi a origem das doze tribos de Israel, nome com que o próprio Deus rebatizou Jacó. O templo é dividido em Oriente e Ocidente, sendo este o mundo visível e aquele o invisível. Estes dois mundos coexistem, sendo o material submetido ao comando do espiritual, em interação constante.

Os adeptos da Maçonaria são seus iniciados, posto que não há outro modo de ingressar na Ordem que não seja pela vivência da iniciação. O iniciado tem um percurso a percorrer, da terra ao céu, do mundo material ao mundo espiritual e de lá precisa voltar ao mundo material para, na qualidade de mestre ascensionado, ajudar os que ainda percorrem um mundo cheio de alegrias e tristezas, de prazeres e de dores. O caminho para a ascensão do iniciado é representado simbolicamente pela escada de sete degraus presente no templo. Cada degrau é um desafio. O primeiro é galgado pelo emprego da força que garante a sobrevivência do ser humano na terra. O segundo se alcança pelo emprego da força conjugada com técnica e inteligência, características do trabalho. A inteligência e a técnica induzem ao estudo das possibilidades do meio ambiente, dando origem ao desenvolvimento da ciência que se exige para a ascensão ao terceiro degrau. O desenvolvimento da ciência dá ao ser humano um poder imenso que permite seu emprego para a sustentação da vida e para a garantia da justiça, ou para a destruição e a morte. Para atingir o quarto degrau, o iniciado precisa optar pelo uso virtuoso do conhecimento científico. Galgando o quarto degrau, se chega ao mundo invisível, ao mundo espiritual, mas a elevação, a ascensão, a exaltação não para aí, faltam ainda três degraus. Para se chegar ao quinto, o iniciado não pode levar consigo a mancha do erro, a culpa pela falta cometida, a pureza é exigida. O sexto degrau é reservado a quem consegue o esclarecimento, a luz. A consciência esclarecida permite ao adepto conhecer a verdade, finalidade da subida ao sétimo degrau. O iniciado precisa, para completar seu percurso, sua jornada, ir da terra ao céu para de lá, conhecedor da verdade, retornar ao mundo material e ajudar seus irmãos que ficaram para trás. Temos aqui mais uma utopia? Talvez sim, mas não há outro caminho.

Uma utopia, uma certeza, um conceito de mundo e uma jornada iniciática são a síntese da vivência em Maçonaria. A ascensão ao último degrau, à verdade, é também um desejo utópico dos iniciados, talvez nunca aconteça. Mas a Maçonaria tem na esperança, na confiança no percurso, na positividade da vitória sua força agregadora, seu desejo de construir um mundo justo onde a humanidade seja feliz.

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