A Maçonaria tem uma utopia, uma certeza, um
conceito fundamental sobre o mundo e uma meta para seus adeptos. Sua
compreensão de mundo e da tarefa que seus membros precisam desempenhar neste
mundo é revelada por meio de símbolos e de falas ritualísticas. Nada é dito ou
apresentado como verdade inquestionável, o que seus iniciados conseguem
entender decorre de seu próprio estudo e meditação.
Em toda sessão ritualística, os irmãos escutam
o Chanceler afirmar que a Maçonaria é uma instituição que tem por objetivo
tornar feliz a humanidade. Uma humanidade feliz é um desejo utópico e, como
tal, mais uma motivação ambiciosa do que uma meta factível. Para os céticos,
dominados por senso de praticidade, perseguir uma utopia é tolice. O que se
deve fazer é buscar seu próprio interesse posto que a vida é breve e não se
deve desperdiçá-la com fantasias. Mas a visão da Maçonaria não é a da
mentalidade prática, a da mente que nega o sonho. A instituição maçônica, uma
ordem iniciática, tem como meta o sonho impossível da construção de uma
humanidade feliz, obra coletiva que une os sonhadores por um mundo perfeito.
Por isso, toda vez que os iniciados se reúnem, a utopia de tornar feliz a
humanidade é anunciada. Os iniciados devem trabalhar por um mundo de paz onde a
humanidade viva feliz.
A certeza compartilhada por todos os iniciados
é a de que a existência de um criador incriado, origem de todas as coisas, é
real, é verdadeira. Na Maçonaria não são aceitos para iniciação aqueles que não
acreditam nesta verdade. A Ordem não define este criador de todas as coisas,
deixa que cada um o entenda como quiser. Para facilitar a referência, a
Maçonaria, que teve seu início entre os construtores de templos cristãos na
Idade Média, chama a Deus de o Grande Arquiteto do Universo.
O conceito de mundo apresentado aos iniciados
da Maçonaria é dual, existe o mundo visível e material e também o mundo
invisível e espiritual. Na entrada do templo há duas colunas sobre as quais
repousam duas esferas, uma representando o mundo da terra e outra representando
o mundo do céu. No interior do templo há uma escada invisível que liga o céu à
terra, inspirada na "escada de Jacó" descrita no sonho daquele
personagem do Antigo Testamento que foi a origem das doze tribos de Israel,
nome com que o próprio Deus rebatizou Jacó. O templo é dividido em Oriente e
Ocidente, sendo este o mundo visível e aquele o invisível. Estes dois mundos
coexistem, sendo o material submetido ao comando do espiritual, em interação
constante.
Os adeptos da Maçonaria são seus iniciados,
posto que não há outro modo de ingressar na Ordem que não seja pela vivência da
iniciação. O iniciado tem um percurso a percorrer, da terra ao céu, do mundo
material ao mundo espiritual e de lá precisa voltar ao mundo material para, na
qualidade de mestre ascensionado, ajudar os que ainda percorrem um mundo cheio
de alegrias e tristezas, de prazeres e de dores. O caminho para a ascensão do
iniciado é representado simbolicamente pela escada de sete degraus presente no
templo. Cada degrau é um desafio. O primeiro é galgado pelo emprego da força
que garante a sobrevivência do ser humano na terra. O segundo se alcança pelo
emprego da força conjugada com técnica e inteligência, características do
trabalho. A inteligência e a técnica induzem ao estudo das possibilidades do
meio ambiente, dando origem ao desenvolvimento da ciência que se exige para a
ascensão ao terceiro degrau. O desenvolvimento da ciência dá ao ser humano um
poder imenso que permite seu emprego para a sustentação da vida e para a
garantia da justiça, ou para a destruição e a morte. Para atingir o quarto
degrau, o iniciado precisa optar pelo uso virtuoso do conhecimento científico.
Galgando o quarto degrau, se chega ao mundo invisível, ao mundo espiritual, mas
a elevação, a ascensão, a exaltação não para aí, faltam ainda três degraus. Para
se chegar ao quinto, o iniciado não pode levar consigo a mancha do erro, a
culpa pela falta cometida, a pureza é exigida. O sexto degrau é reservado a
quem consegue o esclarecimento, a luz. A consciência esclarecida permite ao
adepto conhecer a verdade, finalidade da subida ao sétimo degrau. O iniciado
precisa, para completar seu percurso, sua jornada, ir da terra ao céu para de
lá, conhecedor da verdade, retornar ao mundo material e ajudar seus irmãos que
ficaram para trás. Temos aqui mais uma utopia? Talvez sim, mas não há outro
caminho.
Uma utopia, uma certeza, um conceito de mundo e
uma jornada iniciática são a síntese da vivência em Maçonaria. A ascensão ao
último degrau, à verdade, é também um desejo utópico dos iniciados, talvez
nunca aconteça. Mas a Maçonaria tem na esperança, na confiança no percurso, na
positividade da vitória sua força agregadora, seu desejo de construir um mundo
justo onde a humanidade seja feliz.
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