Por: Gabriel Anghelescu
Em uma era de polarização, a Maçonaria oferece
um santuário de equilíbrio. Ela ensina que a verdade se encontra através do
diálogo, não da imposição, e que a fraternidade se estabelece através da
aceitação das diferenças. Sua missão é atuar como uma força silenciosa e
estabilizadora — um farol para um mundo que parece ter perdido a bússola.
Numa era marcada pela polarização e pelos
conflitos, encontramo-nos, talvez mais do que nunca, perante uma questão
essencial: qual o papel da Maçonaria neste mundo que parece ter perdido o rumo?
Nos últimos tempos, testemunhamos conflitos
militares, tensões regionais e protestos sociais violentos que abalaram
estruturas estatais e dividiram sociedades. Guerras – sejam na Europa, na Ásia
ou em outras regiões – trouxeram sofrimento e incerteza.
Paralelamente, ondas de protestos violentos,
alimentadas por extremos da esquerda e da direita, dividiram comunidades e
ampliaram a discórdia social.
Esses fenômenos, embora diferentes na forma,
têm uma coisa essencial em comum: eles expressam uma profunda falta de
equilíbrio na vida social, política e moral.
Quando as sociedades sucumbem a extremos, sejam
eles políticos ou ideológicos, o caos se instala. Conflitos armados
frequentemente refletem um desequilíbrio entre nações, entre interesses e
valores. Protestos violentos, por outro lado, revelam a frustração de certas
categorias sociais, mas também a incapacidade do diálogo racional de
prevalecer.
Neste mundo fragmentado, está se tornando cada
vez mais difícil manter um senso comum de verdade, justiça e respeito mútuo.
A Maçonaria, por sua natureza e tradição, é um
santuário de equilíbrio. Ela ensina que a verdade é buscada por meio do
diálogo, não da imposição, que a justiça requer moderação e que a fraternidade
requer a aceitação das diferenças.
Na Loja, homens de diversas origens, opiniões e
crenças aprendem a moderar excessos. Esta é uma lição que pode servir de
bússola para um mundo marcado pela polarização.
Assim, os valores essenciais da Maçonaria
assumem vital importância em tempos de crise social e política:
• Fraternidade não implica uniformidade.
Significa apoio e solidariedade, independentemente de filiações, uma arma
contra o ódio e a divisão.
• A verdade se torna um compromisso firme de
buscar fatos e princípios, não notícias falsas ou manipulação.
• Tolerância é a capacidade de coexistir com
uma pluralidade de opiniões e encontrar um consenso. É o antídoto para o
fanatismo. O maçom é chamado a ouvir antes de julgar e a buscar a harmonia
entre as opiniões, não o triunfo de um único ponto de vista.
• A justiça impõe equidade e respeito aos
direitos de todos, mesmo quando as forças da violência tentam anulá-los.
O trabalho social da Maçonaria não exige
exposição pública. Ela atua por meio do exemplo pessoal e do compromisso
silencioso. Cada maçom é chamado a ser uma "coluna invisível" no
templo da sociedade, promovendo a coesão e a compreensão em suas comunidades.
Essa discrição ativa é, paradoxalmente, uma
força que pode neutralizar o ruído e a violência dos extremos.
Mas a Maçonaria, como qualquer movimento humano
complexo, não está imune a conflitos internos. Diferenças em reconhecimento,
regularidade e formas rituais, em certos contextos, criaram divisões entre
certas Grandes Lojas.
Essas divisões são um desafio, mas não devem
obscurecer uma verdade fundamental: o trabalho maçônico é um trabalho comum,
que transcende essas diferenças formais.
Embora a Maçonaria seja plural, isso não
significa fragmentação irreconciliável. Pelo contrário, em sua diversidade
reside uma fonte de força e vitalidade.
Não nos esqueçamos do essencial: nosso
juramento não é a uma instituição específica, mas a ideais universais. Não é um
pedaço de papel que faz o Irmão, mas o trabalho, a ética, o espírito.
Se os maçons não se reconhecem para além das
diferenças administrativas, como poderiam ser construtores de uma humanidade
unida? Se a desconfiança, o orgulho ou a indiferença prevalecem em suas
próprias estruturas, como poderiam ser exemplos para o mundo profano, sedento
de significado e coerência?
Diante dos conflitos e tensões globais, bem
como dos desafios internos, a Maçonaria tem o dever de permanecer um espaço de
equilíbrio.
A Maçonaria é chamada não apenas a existir, mas
a agir. Não apenas a contemplar símbolos, mas a colocá-los em prática. Não
apenas a cultivar um ideal, mas a projetá-lo no mundo.
Mas para que essa ação tenha força, ela deve
ser comum. É necessária a unidade entre irmãos, para além de obediências, ritos
ou fronteiras. Não uma unidade institucional, mas uma unidade mais profunda: a
unidade do espírito maçônico, que se reconhece por atos, por valores
compartilhados e por um trabalho discreto, mas essencial.
O mundo nunca precisou tanto de Luz quanto
agora. Pessoas que pensam com clareza, sentem profundamente e agem com
discernimento. Os maçons podem ser essas pessoas — se estiverem unidos. Unidade
não é apenas uma estratégia. É um dever. Um compromisso de consciência. E
talvez até, em tempos como estes, uma forma de resistência espiritual.
Todo maçom é chamado a praticar e promover a
unidade na diversidade, a trabalhar pela paz e pelo diálogo e a ser um exemplo
vivo dos valores que podem curar as fraturas do mundo.
Dessa forma, a Maçonaria continua sendo não
apenas uma tradição antiga, mas um farol de esperança e razão em um mundo que
precisa urgentemente de equilíbrio.
Esse
artigo foi publicado originalmente em https://www.thesquaremagazine.com
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