Da Redação
O silêncio, na Maçonaria, é um elemento
simbólico e iniciático. O Aprendiz é mantido em silêncio para aprender a
escutar e a refletir, amadurecendo em seu interior as primeiras luzes que a
Ordem lhe oferece. No entanto, é surpreendente perceber que, quando os maçons
finalmente encontram suas vozes, muitos optam por permanecer mudos nos momentos
em que deveriam falar. Esse silêncio não é virtuoso: nasce do medo, da covardia
e da necessidade de aceitação, corroendo pouco a pouco o sentido da própria
instituição.
Entre Religião e Consciência
A Maçonaria não é uma religião. O maçom não se
guia por mandamentos fixos e pecados catalogados, mas por princípios de
justiça, equidade e retidão interior. Enquanto no campo religioso basta cumprir
as normas de um livro sagrado, no campo maçônico é a consciência que orienta o
gesto correto.
Na tradição etimológica, “pecado” significa
“errar o alvo”. Não se trata apenas de um erro moral, mas de um desvio do
centro, uma desconexão do fio de prumo interior. O verdadeiro maçom não deve
contentar-se com obediência cega, mas sim refletir sobre cada situação e
decidir em conformidade com a justiça. No entanto, quantos realmente o fazem
dentro da Loja?
A
Deriva do Conformismo
Muitos maçons, infelizmente, demonstram
comportamentos mais próximos do catolicismo cultural herdado do que da prática
maçônica. Por medo de “quebrar a ordem” ou de gerar conflito, preferem
calar-se, mesmo diante do intolerável. O conformismo se impõe.
Os experimentos de Solomon Asch, na década de
1950, demonstraram como os indivíduos tendem a se alinhar com a maioria, mesmo
quando esta se engana. Na Loja, não é diferente. Quantos se submetem a regras
injustas apenas para obter reconhecimento ou aceitação? Essa submissão alimenta
pequenos poderes, fortalece lideranças manipuladoras e cria uma verdadeira omertà
que silencia os espíritos mais livres.
Submissão à Autoridade
Outro fator é a obediência automática. O famoso
experimento de Stanley Milgram revelou que a maioria das pessoas é capaz de
obedecer cegamente a uma autoridade, mesmo infligindo sofrimento a outros.
Replicações modernas confirmaram o mesmo padrão.
Na Loja, esse comportamento se traduz na
aceitação passiva de ordens e decisões, muitas vezes sem reflexão crítica.
Quantos se levantam e dizem “não”? Quantos têm coragem de enfrentar o risco do
ostracismo?
A
Covardia Silenciosa
No pós-guerra, não faltaram exemplos de maçons
que colaboraram com regimes opressores. Hoje, em tempos de paz, não enfrentamos
o mesmo dilema, mas a coragem parece ainda mais rara. O juramento maçônico fala
em fraternidade, auxílio e apoio mútuo. Mas, na prática, quantos desviam os
olhos quando um Irmão ou Irmã sofre injustiça? Quantos se calam por medo de
perder cargos ou prestígio?
O Templo está seguro, as velas são elétricas,
os seguros pagos — mas os corações estão paralisados pelo medo e pela apatia.
Reuniões quinzenais, em vez de fortalecerem, tornam-se mero ritual esvaziado de
significado.
Entre a Covardia e o Heroísmo
Não se exige que cada maçom seja um mártir como
Jean Moulin ou Arnaud Beltrame, mas há um abismo entre a covardia cotidiana e o
sacrifício supremo. O exemplo da natureza ensina: uma ave defende seus filhotes
com vigor muito maior do que defende a si mesma. Assim também o maçom deve
encontrar coragem quando o sentido de sua luta transcende o ego.
A verdadeira coragem não é agressividade, mas
firmeza serena. É ser capaz de dizer “não” quando todos esperam submissão. É
erguer a voz em nome da justiça, ainda que se pague o preço da solidão.
O
Poder da Palavra
A Maçonaria é construída sobre símbolos, mas
também sobre palavras. Se o verbo não serve para retificar, para recolocar em
retidão, ele se torna vazio. O silêncio cúmplice diante da injustiça mata a
essência da Ordem.
Ao longo da história, o verbo foi usado tanto
para espalhar ódio quanto para semear amor. O maçom deve escolher: sua voz será
um eco da covardia ou um farol de coragem?
Conclusão
O silêncio do Aprendiz é pedagógico; o silêncio
do Mestre pode ser destrutivo. Se a Maçonaria pretende permanecer como uma
escola de liberdade, justiça e fraternidade, precisa de maçons de pé, não de
cúmplices mudos.
É preciso reaprender a indignar-se, a falar com
clareza, a dizer não quando necessário. Só assim a Ordem será digna de seus
símbolos e de sua tradição. Caso contrário, melhor será que seus membros voltem
ao café da esquina para discutir política, pois nada terão a acrescentar ao
Templo da humanidade.
2 Comentários
Estimado Luiz Sergio Castro,
ResponderExcluirEscreveu: "Os experimentos de Solomon Asch, na década de 1950, demonstraram como os indivíduos tendem a se alinhar com a maioria..." e, infelizmente, em Maçonaria, também a maioria acha que somente ritos continentais são praticados (REAA, Adonhiramita [original e o novo], RER, Brasileiro, Mênphis-Misraïm [33º], etc.).
Pratico o Ritual de Emulação (anteriormente conhecido no Brasil como 'York do GOB'), a mais praticada das largas dezenas de variantes admitidas o "rito inglês moderno" (chamemos-lhe assim, por ora...).
Uma das grandes diferenças entre o último e os continentais, é que em Emulação, não é imposto silêncio aos Aprendizes e/ou Companheiros.
Portanto, deixo o conselho para que, futuramente, quando se escrevem afirmações quase definitivas (tipo "O Aprendiz é mantido em silêncio...", ou "O silêncio do Aprendiz..."), convém situar em qual realidade é que são aplicadas.
Um Fraterno Abraço!
Este artigo generaliza e fala do silêncio como se fosse algo universal na Maçonaria. Praticando o ritual de Emulação, do Craft, este sacrossanto silencio é um conceito estranho para mim.
ResponderExcluirO silêncio pode ter as suas virtudes mas um aprendiz do Craft é um ser humano iniciado, que entra numa irmandade de iguais, em diferentes estágios de desenvolvimento e conhecimento e é muita presunção que um aprendiz, não possa, de viva voz dar a sua contribuição à Ordem.